por CARLOS HENRIQUE DE A. RABELLO
Carminha, como era chamada desde bebê, era uma moça
comum, de família humilde, moradora de um bairro simples mas cheia de ambições
de se tornar um dia uma pessoa financeiramente realizada.
Carminha trabalhava no caixa de uma pequena
padaria, próximo a sua residência, e vivia aquela vida de vai e vem
diariamente. Aquela vida lhe angustiava constantemente pois nada de novo
acontecia.
Carminha tinha várias ilusões inclusive estudar
para se tornar alguém e ter rendimentos que lhe desse uma vida com alto
conforto. Tinha, também, o desejo de se tornar um dia uma miss universo pois
seu corpo esbelto, estilo europeu, era propício já que era descendente de
italianos na sua terceira geração.
Conheceu, um dia, o Noronha um rapaz que morava nas
redondezas, trabalhador de um açougue mas sem almejar nenhum desejo de
crescimento nem de status e nem financeiro pois a sua família nunca o
incentivou a mudar a sua vida pois seus pais eram muito simples e com pouca
instrução.
Conversa vai, conversa vem, o tempo passou, e os
dois se disseram apaixonados e, não deu outra, se casaram em menos de um ano.
O casamento não foi nada de pomposo e sim muito
simples; cartório e altar e os convidados mais próximos. O bolo de dois andares
e o champanhe nacional não faltou e as fotografias foram batidas por um dos
padrinhos do noivo com aquela máquina bem caidinha.
A moradia não foi problema pois o casal foi morar
no quarto de Noronha e lá fizeram o ninho dos dois.
No mesmo ano Carminha ficou grávida e nasceu o seu
primeiro filho que foi recebido sem grandes aparatos.
No ano seguinte nasceu a Margarida, guria que puxou
todas as características da mãe.
A vida continuava e para quem via aquela família a
invejava pois, o casal sempre demonstrou total felicidade em casa e por onde
passava.
A vida até certo ponto é cruel com as pessoas, pois
um dia aconteceu o inevitável; sim, o Noronha sofreu um acidente e faleceu.
A vida de Carminha desmoronou de vez ! Com dois
adolescentes para criar teve que se apoiar na mãe para sobreviver.
Carminha ficou revoltada com aquele acontecimento e
pirou de vez.
Sozinha e com a privação de seu companheiro passou
um bom tempo deprimida.
Dia vai, dia vem, Carminha conheceu a Josefina, uma
mulher, também viúva, e vivida ao extremo.
Josefina que tinha alguns recursos financeiros
induziu Carminha a viver intensamente e passava os dia em bares, boates, shows
sempre em busca do sexo oposto.
Os programas começaram a acontecer e Carminha teve
que largar o seu emprego e orientada pela sua amiga, passou a obter grana viva
de seus acompanhantes sempre em troca da primeira profissão conhecida no mundo,
ou seja, o sexo.
Carminha já se fazia conhecida nas redondezas pelo
trabalho árduo que exercia e teve, pelas críticas que lhe eram dirigidas, que
se mudar para um bairro, mais nobre da cidade e mais promissor para o trabalho
que realizava.
A amizade entre as duas colegas de profissão durou
por algum tempo e Carminha já profissionalizada escolheu a carreira solo.
Insatisfeita com o seu faturamento passou em busca
de uma nova realidade que admitia ser melhor remunerada e com menor desgaste
físico.
Passou, então, a procurar os homens maduros para
não dizer idosos pois esses eram presas fáceis para conquistar e tinham um
cofre cheio de grana a sua disposição.
Essa sua mudança de conduta realmente deu certo e o
dinheiro cada vez mais se fazia presente.
De vez em quando, como ninguém é de ferro, Carminha
viajava para o exterior e levava, a tira colo, a sua filha e sua neta pois, sua
filha, já havia constituído uma família. Seu filho, não sei porque, não era
persona grata para a sua mãe e não se falavam, talvez por vergonha da profissão
que sua mãe exercia.
Carminha continuou a sua abordagem por anos a fio e
conheceu muitos idosos de patentes, aposentados de grandes empresas e gente de
todas as classes sociais que lhe cobriam de joias e muito dinheiro a ponto de
poder se aposentar e viver o fim de sua vida em total conforto com sua pequena
família.
Mas, Carminha, agora, com 80 anos de idade, com os
cabelos branco e sempre bem penteada ainda, se sentia atraente aos olhos do
sexo oposto e mais ainda, suas conhecidas, pessoas que praticavam a mesma arte,
a incentivavam a continuar naquela diversão e, até que a morte nos separe,
continuou na sua carreira profissional mas nunca admitiu que era uma
prostituta.
***
Este
trabalho integra a antologia Contemporâneos 2018 que será lançada pela
Taba Cultural Editora entre dezembro/2017 e janeiro/2018.
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